segunda-feira, 5 de abril de 2010

A epidemia de crack


Reportagens de três jornais dos Diários Associados (Correio Braziliense, Estado de Minas e Diário de Pernambuco), em série publicada a partir de novembro do ano passado, apresentaram quadro avassalador: o crack chegara a localidades remotas do interior do país, incluindo a zona rural e aldeias indígenas. A Cracolândia, que apenas 20 anos antes não passava de reduto no centro da capital paulista, se multiplicara a ponto de a droga virar epidemia nacional. Em Brasília, aproximava-se do centro do poder, tomando a Rodoviária do Plano Piloto e áreas próximas, como os setores Comercial e de Diversões Sul. Em janeiro, o trabalho jornalístico já constatava que a disseminação seguia forte e atingira o Entorno.

Não surpreende, pois, que as estatísticas de criminalidade no DF, divulgadas na semana passada, registrem o aumento dos delitos contra a vida (assassinatos, tentativas de homicídio, lesões corporais e sequestros relâmpagos). Admira menos ainda que a Secretaria de Segurança Pública reconheça a existência de uma epidemia do crack e a aponte como a vilã dos resultados ruins. A propósito, as apreensões da droga na capital federal e arredores cresceram 175% nos dois últimos anos. A boa notícia é que o GDF, enfim, lançará uma campanha publicitária. Trata-se de eficiente instrumento preventivo de combate a esse mal que desafia as autoridades em todo o território nacional. Espera-se que seja suficientemente ampla e esclarecedora para afastar do perigo potenciais consumidores e sensibilizar a sociedade para a gravidade do problema e a necessidade de ação conjunta.

A questão está longe de ser meramente policial e de estar restrita a viciados e traficantes. A repressão ao tráfico é fundamental, o tratamento de usuários é igualmente importante, mas não se pode esquecer que todo o círculo de relacionamento desses últimos também carece de cuidados especiais. O primeiro ponto é convencer as pessoas do perigo real do crack, subproduto da cocaína que, não raro, vicia instantaneamente, na primeira experiência, e tem consequências devastadoras, com rápida degradação física e mental e elevado risco de morte. Como os efeitos do uso têm pouca duração, de cinco a 15 minutos, as pedras são fumadas uma atrás da outra, de modo incessante, antes que a sensação de euforia dê vez à depressão. Na fissura, se não tiver mais droga disponível, o dependente é capaz de matar para obtê-la.

De alguma forma, portanto, toda a população está vulnerável ao crack. Cabe ao Estado atuar na prevenção, na repressão e no tratamento dos envolvidos. Mas nenhuma ação governamental será bem-sucedida se os cidadãos não estiverem plenamente conscientizados. Inclusive da importância da ajuda de profissionais para que a luta seja vencida. E aí a ação volta a ser responsabilidade dos governos — nos níveis federal, estadual e municipal —, que precisam dar o suporte necessário. Programa lançado em 2009 pelo Ministério da Saúde prevê investimentos de R$ 118 milhões, até dezembro, no aumento do número de leitos e de pessoal especializado em saúde mental, em núcleos de apoio à família e centros de atenção psicossocial. Primeiro, o plano cobre as cidades com mais de 100 mil habitantes e outras sete localizadas em fronteiras. Falta atender o resto do país. Segundo, urge assegurar-se de que as providências estejam sendo tomadas. Não há tempo a perder.
 
Fonte: Correio Braziliense

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